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Lidar com o diagnóstico: a jornada da urticária

“Será que tenho?”

“Quando é que saberei?”

“Será que é mais qualquer coisa?”

“Quantos mais testes têm que me fazer?”

Se foi diagnosticado com urticária crónica espontânea (UCE), pode-se ter questionado. E a parte mais frustrante de tudo isto é que provavelmente não tem respostas imediatas.

Porquê? Porque ao contrário da maioria das doenças, não há um único teste que possa fazer e que diga se tem ou não urticária crónica. Tem que ser diagnosticado por exclusão. Mas porquê?

A natureza da urticária crónica

A resposta está em parte no nome da doença. Já deve ter percebido que por vezes é referida por UCI, que significa urticária crónica idiopática. É a mesma doença, apenas dois nomes diferentes. Na verdade, idiopática, significa "doença de causa espontânea ou desconhecido".1

Alguns dermatologistas e alergologistas acha que o termo está ultrapassado, impreciso e ambiguo.2 Para esses profissionais, todos nós devemos usar UCE, uma vez que é mais preciso.

Toda esta confusão em torno da urticária crónica espontânea é exatamente o que faz o diagnóstico ser tão desafiador. Seja qual for o nome que lhe dá, não há nenhuma causa conhecida da doença. E o diagnóstico de uma doença sem causa conhecida é um desafio para dizer o mínimo.

A jornada do diagnóstico

Não surpreendentemente, não existe uma fórmula mágica para identificar a UCE. Estudos recentes têm demonstrado que a triagem laboratorial de rotina não ajuda a diagnosticar a UCE, ou as suas causas.3 A única maneira de identificar se um doente tem urticária crónica é excluir toda uma série de outras doenças. Ao consultar o seu médico, considere discutir qualquer histórico de pápulas ou outros sintomas e garantir que discute minuciosamente o seu historial clínico. Isto pode ajudar no seu diagnóstico.

Em primeiro lugar o que os médicos procuram são geralmente as alergias. A razão de ser é que a UCE tem sintomas muito semelhantes a alergias. A principal causa de uma alergia é a ativação dos mastócitos, um tipo de célula presente na sua pele. Quando os mastócitos libertam seus produtos químicos, resulta na formação de pápulas e comichão – tal como na UCE.4

Mas quando as pessoas com urticária crónica não respondem ao tratamento para as alergias, torna-se claro que um outro problema deve ser o culpado. E a incapacidade de identificar a causa, leva muitas vezes médicos e doentes a pensarem que outras doenças podem estar em jogo. Isso significa mais tempo e testes mais extensos (testes como exames físicos, do sangue, testes de alergias, e exames para outras doenças malignas), frustrando ainda mais os doentes!5

E enquanto tudo isto pode ser muito desencorajante, há luz no fim do túnel quando se trata de diagnosticar UCE. Na verdade, há orientações de diagnóstico que se destinam a reduzir o monte de frustração do doente a 23 perguntas para o seu médico fazer antes de pedir quaisquer análises adicionais!6

Mesmo quando a urticária fica identificada como uma possibilidade, ainda não é a solução direta. A distinção entre urticária aguda e crónica pode ser um desafio. A questão é que é difícil dizer em que doentes um surto de urticária vai simplesmente acontecer uma vez e depois desaparecer, ou vai levar a uma doença crónica.7

Então, porquê preocupar-se?

Esta é uma pergunta que muitos doentes fazem-se quando estão a ter meses de testes e falsas esperanças, em busca de um diagnóstico. Mas a questão é que só diagnosticando corretamente a sua doença é que pode adequadamente trabalhar com o seu médico para controlá-la.

É natural pensar que é injusto ... porque em grande parte, é. Como se os sintomas e a comichão não são maus o suficiente para ser tratados, torna-se ainda mais frustrante por ser incrivelmente difícil de diagnosticar!

Mas lembre-se do ditado, "há poder no conhecimento." E, neste caso, há poder em aguentar o drama do diagnóstico e perceber o que está a acontecer com o corpo. Se você está neste momento no meio no diagnóstico, mantenha-se forte!

Se quer saber mais informações sobre o diagnóstico da UCE, incluindo algumas perguntas para fazer ao seu médico, pergunte-lhe pelas orientações ou guidelines europeias do GA2LEN, uma rede de peritos em dermatologia e alergia. Se já passou pelo drama do diagnóstico, partilhe a sua experiência. Visite a página no Facebook da Comunidade de Doentes de Urticária Crónica Portugale dê o seu apoio a outras pessoas que estão a passar pelos mesmos desafios.

Referências

  1. http://www.merriam-webster.com/dictionary/idiopathic. Consulta em 16 de outubro de 2015.
  2. Mauer, Marcus, C. Bindslev-Jensen, et al. “Chronis idiopathic urticaria (CIU) is no longer idiopathic: time for an update.” Última consulta em 11/3/15. http://www.researchgate.net/publication/230572044_Chronic_Idiopathic_Urticaria_(CIU)_is_no_longer_idiopathic_time_for_an_update!
  3. Martina M. A. Kozel, MD; Jan R. Mekkes, MD; Patrick M. M. Bossuyt, PhD; Jan D. Bos, MD, PhD. JAMA Dermatology. “The Effectiveness of a History-Based Diagnostic Approach in Chronic Urticaria and Angioedema.” Consulta em 19 de outubro de 2015.
    http://archderm.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=189699
  4. What is an allergy? AllergyUK. Disponível em www.allergyuk.org/what-is-an-allergy/what-is-an-allergy - Ver mais em: http://www.skintolivein.com/urticaria/urticaria-and-you/knowing-the-difference/. Consulta em 19 de outubro de 2015.
  5. Martina M. A. Kozel, MD; Jan R. Mekkes, MD; Patrick M. M. Bossuyt, PhD; Jan D. Bos, MD, PhD. JAMA Dermatology. “The Effectiveness of a History-Based Diagnostic Approach in Chronic Urticaria and Angioedema.” Consulta em 16 de outubro de 2015
    http://archderm.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=189699
  6. Zuberbier T, Aberer W, Asero R, Bindslev-Jensen C, Brzoza Z, Canonica GW, Church MK, Ensina LF, Gimenez-Arnau A, Godse K, Gonc alo M, Grattan C, Hebert J, Hide M, Kaplan A, Kapp A, Abdul Latiff AH, Mathelier-Fusade P, Metz M, Nast A, Saini SS, Sanchez-Borges M, Schmid-Grendelmeier P, Simons FER, Staubach P, Sussman G, Toubi E, Vena GA, Wedi B, Zhu XJ, Maurer M. The EAACI/GA2 LEN/EDF/WAO Guideline for the definition, classification, diagnosis, and management of urticaria: the 2013 revision and update. Allergy 2014; DOI: 10.1111/all.12313. Última consulta 11/3/2015 http://www.ga2len.net/PDF/Guideline.pdf
  7. Maurer M, Weller K, Bindslev-Jensen C, Gime´ nez-Arnau A, Bousquet PJ, Bousquet J, Canonica GW, Church MK, Godse KV, Grattan CEH, Greaves MW, Hide M, Kalogeromitros D, Kaplan AP, Saini SS, Zhu XJ, Zuberbier T. Unmet clinical needs in chronic spontaneous urticaria. A GA2 LEN task force report. Allergy 2011; 66: 317–330. Consulta em 16 de outubro de 2015. http://onlinelibrary.wiley.com/store/10.1111/j.1398-9995.2010.02496.x/asset/j.1398-9995.2010.02496.x.pdf?v=1&t=ifrbwjfq&s=22e77bab48161b2f1f967aee772dce6f585485a7
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